Pelos quatro cantos de Rio Grande

Nos dias 20 e 21 de julho, eu, Raphael Kurz recebi a visita dos catarinenses Tycho Fernandes e Gilberto Botelho, e acompanhado do João Gava Just, fomos pra uma expedição pelos quatro cantos do município de Rio Grande. Município com maior número de espécies no Rio Grande do Sul de acordo com o site wikiaves.com.
Bom, como tínhamos pouco tempo para explorar uma área tão grande, dividimos a expedição em quatro partes. A primeira parte foi na Praia do Cassino, a maior praia do mundo. A segunda parte, foi na Ilha de Torotama, um local com diversas espécies que são encontradas somente naquele lugar do munícipio. A terceira parte foi a Estrada de Santa Izabel e a REBIO do Banhado do Maçarico e pra finalizar, a famosa ESEC do TAIM.
Abaixo irei relatar brevemente sobre nossas visitas nesses quatro pontos de extrema importância pra biodiversidade no extremo sul do Brasil.

Praia do Cassino

No primeiro dia da nossa expedição por Rio Grande, saímos de Pelotas por volta das 07:30 e fomos em direção à Praia do Cassino.
Chegamos lá e o nosso objetivo inicial, era registrar a carqueja-de-escudo-vermelho (Fulica rufifrons) que eu havia encontrado três dias atrás, como relatei aqui. Infelizmente não encontramos a ave, mas em compensação um joão-da-palha (Limnornis curvirostris) e uma saracura-do-banhado (Pardirallus sanguinolentus) deram show para as nossas lentes, além dessas duas, registramos algumas outras espécies mais comuns por lá.

saracura-do-banhado (Pardirallus sanguinolentus) Foto: Raphael Kurz
Seguimos em direção à Praia do Cassino e lá avistamos diversos trinta-réis, entre eles o anão, o de coroa branca e o trinta-réis grande. Além disso, o que mais nos chamou atenção foi a imensa quantidade de mergulhão-grande (Podicephorus major) que encontramos na água. Eram dezenas pescando e felizmente o pessoal conseguiu fazer bons registros, visto que essa espécie era novidade para eles. Seguimos de carro na direção do sul e encontramos algumas espécies de batuíras e diversas gaivotas, os destaques ficaram por conta das gaivotas-maria-velha (Chroicocephalus maculipennis) e da rara gaivota-de-rabo-preto (Larus atlanticus). Também encontramos um indivíduo do colegial (Lessonia rufa) e um pedreiro-dos-andes (Cinclodes fuscus). Pra minha felicidade, consegui fazer ótimas fotos do pedreiro, tive sorte, pois no momento do registro a ave nem notou a minha presença, facilitando muito o registro.
gaivota-maria-velha (Chroicocephalus maculipennis) Foto: Raphael Kurz
pedreiro-dos-andes (Cinclodes fuscus). Foto: Raphael Kurz

Ilha da Torotama

Após o meio-dia, retornamos em direção à cidade e fomos até a Ilha de Torotama, local no qual, havia possibilidade de encontrarmos algumas novas espécies, como a corruíra-do-campo (Cistothorus platensis) e o boininha (Spartonoica maluroides), além de diversas outras espécies campestres e de ambientes úmidos.  Logo na chegada, fomos recepcionados por um imponente gavião-carijó (Rupornis magnirostris). Chegamos no local onde iríamos atrás da bicharada e por lá encontramos várias batuíras, entre elas a batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus) e a batuíra-de-peito-tijolo (Charadrius modestus).
Caminhamos bastante pelo campo e após isso, fomos atrás das espécies que procurávamos. Colocamos as botas de borracha e encaramos um charco próximo à lagoa. Logo no início encontramos um indivíduo do boininha (Spartonoica maluroides), mas não conseguimos fazer nenhum registro decente. Seguimos caminhando e tentando atrair a  corruíra-do-campo (Cistothorus platensis) com o playback. Pra nossa alegria, a ave apareceu e nos deu a chance de fazermos ótimos registros. Momento de muita alegria entre todos, já que a ave geralmente não sai "no limpo".
Continuamos caminhando até a beira da lagoa e eu decidi tentar atrais o boininha (Spartonoica maluroides) com o playback. E não é que o danado apareceu? Além de aparecer, nos deu a chance de fazer bons registros da espécie. Eu tive muita sorte, pois segui caminhando um pouco mais e a ave apareceu na minha frente, no topo das marismas e no limpo. Tentei chamar o pessoal pra registrar comigo, mas infelizmente não chegaram a tempo.
A Ilha da Torotama sempre nos reserva boas surpresas e nesse dia essas duas espécies deram show. Valeu a pena entrarmos dentro do charco pra registrar essas espécies tão raras de serem vistas na região. Rolou até tombo na água lamacenta durante a volta, mas isso não vem ao caso...
Inesperadamente, o Gustavo Gomes apareceu por lá, grande amigo de passarinhada também estava atrás da bicharada na quinta-feira, mas dessa vez ele estava com sua família.
Bom, já era hora de voltar pra casa, pegamos a estrada de volta e mais uma vez fomos presenteados pela natureza, um sargento (Agelasticus thilius) pousado na beira da estrada ficou imóvel por alguns minutos e mais uma vez conseguimos fazer excelentes registros de uma espécie nem tão comum assim.

Gilberto, Tycho e João caminhando nos campos da Torotama. Foto: Raphael Kurz
corruíra-do-campo (Cistothorus platensis). Foto: Raphael Kurz
boininha (Spartonoica maluroides). Foto: Raphael Kurz.
sargento (Agelasticus thilius). Foto: Raphael Kurz.

Santa Izabel e REBIO do Maçarico

No nosso segundo dia de birdwatching, partimos rumo à outros locais onde poderíamos registrar as espécies que não encontramos no dia anterior. Saímos de Pelotas 7:30 e partimos em direção à Estrada de Santa Izabel, onde queríamos encontrar o marrecão (Netta peposaca), mas infelizmente não o encontramos, visto que o banhado estava praticamente seco. Em compensação, fizemos um registro importante pro município de Rio Grande, no meio do caminho, encontramos um gavião-de-rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus). Além dele, também registramos um lindo gavião-caboclo (Buteogallus meridionalis).
Tentamos encontrar o arredio-do-gravatá (Limnoctites rectirostris) por lá, mas infelizmente não conseguimos encontrá-lo. Felizmente rolou um lifer pro pessoal lá, o coleiro-do-brejo (Sporophila collaris).

gavião-de-rabo-branco (Geranoaetus albicaudatus). Foto: Raphael Kurz
gavião-caboclo (Buteogallus meridionalis). Foto: Raphael Kurz

REBIO do Maçarico

Depois fomos para o famoso Banhado do Maçarico, local que abriga diversas espécies de aves, incluindo o raro e misterioso macuquinho-da-várzea (Scytalopus iraiensis). Que eu ainda não tive a oportunidade de registrar.
Pra saber um pouco mais sobre essa importante reserva no sul do Brasil, acesse o link no site WikiParques.
No Maçarico, encontramos algumas espécies legais, entre elas a noivinha-de-rabo-preto (Xolmis dominicanus), o papa-piri (Tachuris rubrigastra) e várias outras espécies habitantes dos juncais alagados do extremo sul do Brasil. Quem deu show por lá foi o chimango (Milvago chimango), ave muito comum por aqui.

chimango (Milvago chimango). Foto: Raphael Kurz

ESEC do Taim


Placa vista da estrada, logo na chegada ao TAIM. Foto: Raphael Kurz.
Nosso primeiro objetivo na ESEC do TAIM era conhecer esse famoso santuário da fauna gaúcha e o segundo, se possível, registrar alguma espécie que até então, não tínhamos registro. Fomos na Estrada da Serraria, indicação do João. Chegamos lá no meio da tarde e ainda assim, conseguimos registrar e observar diversas espécies. Os banhados estavam secos, mas mesmo assim cheio de aves. Por lá, há uma grande mata de restinga, onde observamos diversas aves que até então não tínhamos visto nos dois dias de expedição.

maçarico-real (Theristicus caerulescens). Foto: Raphael Kurz
O habitante mais conhecido do Taim, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris). Foto: Raphael Kurz
codorna-amarela (Nothura maculosa). Foto: Raphael Kurz.
picapauzinho-verde-carijó (Veniliornis spilogaster) macho. Foto: Raphael Kurz
Encerramos nossa expedição já no final da tarde com o sentimento de que esses dois dias intensos de birdwatching foram de grande valor. Não apenas pelas espécies registradas, mas sim pela amizade que criamos. Com convicção, digo que iremos continuar nos encontrando várias vezes, seja aqui no Rio Grande do Sul ou em Santa Catarina.
Fica aqui meu agradecimento à todos que participaram dessa "rica indiada" por aqui e já adianto que a próxima é em Floripa, atrás da figuinha-do-mangue (Conirostrum bicolor).
No total, foram mais de 130 espécies observadas em dois dias.

Clique aqui para ver as fotos do primeiro dia e aqui para ver todas fotos do nosso segundo dia de expedição.

Da esquerda para direita: João Gava Just, Tycho Fernandes, Gilberto Botelho. Foto tirada na ESEC do TAIM.

Comentários

  1. Registro primoroso de uma passarinhada especial. Parabéns pelo relato e pelas fotos Raphael e muito obrigado pela acolhida.

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    1. Eu quem agradeço, Tycho. Foi uma visita muito especial!! Em breve estarei por aí!! Abração

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  2. Que blz pessoal, excelente passarinhada! Deu vontade de estar aí junto com vocês. Parabéns Raphael pelo relato e pelas fotos. Grande abraço

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    1. Fala Dante!! Tu será muito bem recebido quando vieres pra essas bandas de cá, só avisar com antecedencia que faremo um baita passeio!! Abração

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